segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Triste ou brava?

Já era quase 5 da tarde e mesmo exausta ela não perdia a mania de começar a escrever falando do tempo.
O tempo dela não era mais aquele contado no relógio, nem mais aqueles riscos dados no calendário que ela ganhou na padaria na manhã da virada do ano.
Seu tempo era medido com sangue correndo nas veias e bombeado pro coração. Aquele era o novo contar, aquela era a nova agunia.
Se olhou no espelho e não viu nada além de vontade. Não tinha rugas, manchas, e muito menos olhos-nariz-boca, era somente a vontade!
O amor-louco a tinha transformado em um ser surreal digno de exageros. Surreal pra ele, surreal pra ela.
Enquanto ela se via sem olhos-nariz-boca levantava as mãos para cima como se estivesse querendo pegar algo, embora quisesse somente se espreguiçar.
Se assustou e gritou no espelho:
-Anda, não cai! Que porra que eu to vendo?
E logo a forma humana voltava pro seu rosto riscado de tempo.
Precisava se camuflar pra ser aceita, mesmo que não fosse compreendida.
Ao sair do banheiro encontra seu amado que assustado a questiona:
-Triste ou brava?
Demorou pra responder, mas aproveitou seus olhos humanos pra perceber o que os olhos-surreais não viam: a vaidade que faltava nele ao arrumar o cabelo e fazer a barba.
Se tocou que aquele amor vivido por ela nunca tinha se quer ouvido falar, nem em lendas HUMANAS, então respondeu:
-To cansada-triste!
Ele a abraçou, entendeu o disfarce humano e seguiu com ela de mãos dadas amando-a mais ainda do que ontem.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

quarto 360

Os Pingos de chuva do chuveiro misturado com água morna pra espantar os 5 graus Celsius fazia um som junto com a TV ligada e com a voz dela em tom forte e alto.
"minha camisa rasgada no peito escorrendo óleo diesel..."

-Ô amor! não pra cantar mais baixo? os hospedes ao lado devem estar escutando...
-Ah, a gente passa a noite trepando sem que nenhum de nós contenha os gemidos e você vem reclamar disso?

(minutos depois o casal volta a trepar loucamente e os vizinhos do lado tem sorte por terem sono pesado)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Questão 1 do Enem do amor.

(FA – 2011) Muito se sabe que as coisas intensas na vida de Nathane Dovale acontecem com freqüência, visto que a mesma faz questão de viver intensamente tudo, inclusive as paixões. Porém numa manhã de um fim de julho seu coração bateu mais forte quando encontrou aquele do bigode loiro sem uso de descolorantes, cabelo levemente bagunçado, camisa do melhor álbum dos beatles (revolver) e cara de “oi, vim te amar”. A construção do seu texto verbal corporal estava totalmente confusa, se alguém ali naquele gigante aeroporto estivesse lhe observando de longe não saberia o que ela sentia, embora tenha precisado de eufemismo para explicar que estava apaixonada. Não se sabe na verdade que figura de linguagem ela incorporou. Foi ambígua pra depois desenvolver suas próprias onomatopéias. Ali nada se resolvia, começou a surgir expressões numéricas diversas, um misto de progressão aritmética com geométricas, já que os corpos ao se abraçarem formaram uma nova hipotenusa nunca antes pensada na história da matemática que findou na nova definição do Teorema de Pitágoras “Em qualquer aeroporto, não não, em qualquer lugar inclusive em um triângulo retângulo, o amor dele pelo comprimento do amor dela é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos, digo do amor mais fiel”. Pitágoras tremeu no túmulo, ou seja lá onde esteja.
A história não parou por ai, após uma tarde regada de cerveja e pensamentos puritanos no seu amado, Nathane abraçou a causa do otimismo, hedonismo monogâmico, iurismo e conseguiu se destacar no renascimento cultural.
Os dias foram passando e uma bela tarde no vão do MASP após tantas conversas uma membrana plasmática foi formada com núcleo, retículo endoplasmático e todas essas outras coisas que tem, sem esquecer do amor!
A química, que ela tanto odiava na escola, ganhou dimensões baseada em estruturas de átomos amorosos, moléculas e outros tipos de agregações, como por exemplo, batata frita dele mergulhada no cheddar dela.
A geografia dos corpos foi bem explorada e houve até promessas dele que disse que a levaria para conhecer o mar. Ela espera.
A lei da reação-ação, sim ao contrário, fez Newton feliz querendo até mudar o nome para ‘lei da nathane-iuri’.
Depois de muitas danças e andanças as palavras dele pra ela foram:

a)Você tomou LSD, amor?
b)Eu te amo!
c)Foi bom pra você?
d)Amor, deixa eu dormir?
e)N. D. A.


*FA = Faculdade do amor

11º com sensação de 40º

Entre os prédios que me enfeitam a cintura, com fagulhas de frio jogadas à cara, os lábios pedindo batom vermelho-tomate e implorando teus beijos, eu te espero! Já te esperei tanto! Esperei mais que 30 dias, esperei mais do que espero agora que todos esses caras que aqui passam e parecem com o Woody Allen o sejam pra eu pedir um autografo e uma foto, esperei por anos pra sentir o que estou sentindo.
Essa saia muito justa faz com que algumas pessoas passem e fiquem olhando pra mim, ou será a ansiedade que está estampada no meu rosto.
Chega logo, amor! Chega porque não tem ninguém que me interesse mais que tu, não tem outra mão que eu queira beijar, outro abraço que eu queira segurar, e outro pescoço que queria abraçar do que o teu.

(ele ouve o que digo e aparece vestindo a jaqueta de couro mais linda que eu já vi e que bem me vestiria se eu estivesse nua)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Obedeceu Kafka e me escreveu como uma oração.

Em tempos atrás ela escreveu pra outro. Em tempos atrás ele escreveu pra outra.
Outros, a este papel o passado se bastava.
Ela já não precisava virar noites pra esquecer o sofrer escrevendo contos e prosas tristes e Ele ainda escrevia como se fizesse uma oração : lavava as mãos, perfumava a cabeça, arrumava as coisas na cama, na falta da escrivania ajoelhava-se no piso do quarto e apoiava o corpo no colchão, desligava as luzes, ligava a luz do coração e do abajur e começava a desenhar as grafias.
Sobre Ela o ritual era melhor preparado e fazia uma questão enorme de fazer o melhor desenho, o melhor contorno do seu corpo, dos olhos, do coração, tudo isso em formato de palavras.
Era fiel a prece, assim como era à Ela.
Era fiel a prece, a prece que agora se chamava Ela.
E ela que antes só escrevia contos tristes agora se sente inspirada só de pensar nele, se sente mais bela só em ver que aquele amor todo é correspondido, e se sente a melhor escritora só por estar escrevendo para Ele.

Ele, aquele que nunca vai inspira-la a escrever contos tristes.
Ele, aquele que tão bem é desenhado no coração dEla.