sábado, 16 de julho de 2011

O amor bom é facinho.

De Ivan Martins
( http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI244764-15230,00-O+AMOR+BOM+E+FACINHO.html)

Por que as pessoas valorizam o esforço e a sedução?

Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade?

Eu suspeito que não.

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?

Minha experiência sugere o contrário.

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.

Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?

Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?

Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir?

Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.

Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.

terça-feira, 12 de julho de 2011

indagações da autora do blog.

"Ser intensa me deixa tensa!
Como faz pra mudar? "
Indagou uma Nathane cansada de muitas coisas...

As quatro estações.

Se fiquei esperando o meu amor passar...
todo mundo riu de mim, afinal o século XXI não aceita pessoas românticas...
Dane-se, vou te esperar mesmo assim!

neura1

mente humana
mente, engana
diz que me ama
mas logo me deixa
como uma cereja
pra comer quando
o bolo acabar

se fores daqueles
que come primeiro a cereja
e logo deseja
o bolo devorar
por favor, sai daqui
porque eu prefiro
me saborear sem gostar
e sem amar...
ninguém!

Eu não vou mudar, não!

Até que a última gota de paciência seja engolida eu vou ficar aqui esperando que o próximo copo fique cheio de novo.

Piromaníaca.

Crava as unhas longas e pintadas de um vermelho-tomate nos braços dele e grita:
-Bora, fala, diz que você escreveu isso pra mim!
Ele não se assustou, apenas revirou os olhos e tentou tirar as mãos dela do seu braço.
Ela não queria esperar mais, não aguentava ler aquelas coisas que se encaixavam tão bem com a relação dos dois, e não suportava mais o desejo de tê-lo.
-Não foi pra ti, talvez isso que tu sintas é somente um desejo que eu escrevas pra ti, mas tu não me inspiras!

O despertador toca e ela pula da cama. A menina que na noite passada tinha ido dormir desejando que todos os contos de amor do seu escritor preferido tivessem sido feitos para ela acordou assustada, mas decidida!
Juntou todas as folhas imprensas em papel barato com aqueles contos escritos de maneira peripatética e ateou fogo em tudo enquanto resmungava:
"estou queimando isso tudo, porque nada disso foi pra mim! estou queimando isso tudo, porque nada disso foi pra mim..."

Cisne vermelho.

Desde muito cedo sonhava, até dormia cedo pra acordar tarde e sonhar mais.
Um palco com cortinas vermelhas ou a sala com uma gigante tela era onde ela projetava aparecer. Achando que não precisava de quase nada na vida, só dessas projeções, interpretava sempre que podia e sem parecer dissimulada.
Os amigos diziam que ela sabia o que fazia, e fazia isso bem! Ela sabia que era isso que queria, a única 'coisa' que queria era isso!
Encontrou a melhor do mundo, se arrepiava com cada relato, cada gesto, cada foto. Pensava, se emocionava, e se certificava que era aquilo, sim, aquilo que esperou tanto a vida inteira.
Por não conseguir mover-se para realizar decidiu se matar, se matou de tanto só querer.

avançar.

"Se eu sei que no final fica tudo bem..."
Se dirige ao guichê do terminal de ônibus e pergunta:
- Ô moço, como eu faço pra chegar no final?

otimismo utópico?

Tudo que queria
Nada que tinha
Tudo que arriscou
Nada que ganhou
Tudo que lamentou
Nada, nada que sofreu

Tudo isso porque nunca existiu. Caso tivesse existido tudo teria, tudo ganharia e nada sofreria.
tudo tudo, nada!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A origem.

No principio saiu de casa e a chuva insistia em cair só na cabeça dela. Ela viu que não era bom, mas seguiu mesmo assim. Era o primeiro dia.

Resolveu comprar um guarda-chuva. Ela viu que não era bom, qualquer vento o tecido vermelho já se soltava dos arames e balançava pelo ar e a molhava inteira. Seguiu mesmo assim. Era o segundo dia.

Já sem muita sorte a chuva que apareceu foi aquela surreal chuva de canivetes. "Poxa vida, que droga. Tudo acontece comigo". Ficou toda cortada. Era o terceiro dia.

Precisava sair todos os dias, não precisava, queria sair todos os dias, e naquele dia a chuva era fraquinha. Quando colocou a cabeça pra fora de casa, ainda com os ferimentos expostos, sentiu uma ardência do álcool que a aquela chuva trazia deslizar no seu corpo. Nossa como ela se contorceu ao sentir aquilo, mas precisava! Era o quarto dia.

Arrasada após todos esses infortúnios do tempo, ela não desistia. Saiu então de casa, sem guarda-chuva e com chuva de granizo caindo em sua cabeça. Era o quinto dia.

Sem forças continuava a sair de casa no mesmo horário, pegava as chaves e o casaco, toda machucada, mas ia! Naquele dia foram chuviscos e a esperança que as coisas podiam melhorar. Era o sexto dia.

No sétimo dia viu que aquilo tudo era bom, se acostumou e descansou pensando: "quanto drama eu fiz nessa última semana...".