Paro para pensar que melhor seria parar de pensar.
Envolvida em nada me lanço nos braços de ninguém buscando somente um vazio para preencher o meu cheio que já atormenta tanto.
A boca vazia, sem dentes, sem língua, logo sem paladar busca que o inesperado impressione e a encha de orgulho.
Os braços miúdos e as pernas sem pelos se arrepiam sem que ninguém perceba.
A cabeça gira, gira, gira e não me deixa tonta.
Estou imune ao mau que faz o mundo.
Cheiros não me atormentam mais, ouvir tua voz longe já não me atormenta mais, pensar diariamente naquilo já não me atormenta mais.
Solto o cabelo no mundo e tento envolvê-lo com o cheiro do meu xampu, mas consigo apenas alcançar tuas narinas enquanto tua cabeça descansa no mesmo travesseiro que o meu.
Te puxo para perto, tu te impulsionas para longe, te deixo ir.
Tua boca prova outros beijos, outros gostos, outro sexo. E gostas.
Minha boca cala, meu corpo se abre, os botões da minha camisa caem e deixam meus seios amostra.
Ninguém viu, nem eu, quando os botões caídos silenciavam minha morte.
A morte do que eu não fui, o grito para os ouvidos dos surdos.
Não sou nada e sou tudo.
Fui nada e fui tudo para você, mas ser amado por mim te incomodou.
Recolho minha face estampada nos jornais, meu corpo estendido no meio da rua, recolho as rosas jogadas no chão e rasgo as páginas do livro do amor... enquanto não escrevo outro.
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