sábado, 7 de abril de 2012

morrissey-ônibus-política-angra

Ela rabiscou todo o meu manifesto comunista.
De impactante os comentários no livro não tinham nada, mas me encho de orgulho do meu livro ter sido tocado por aquelas mãos pequenas, e ter recebido tais rabiscos.
Sempre rio quando vejo e lembro de como ela falava do Marx, concordava-discordando do Engels e quase colocava por terra abaixo todas as minhas aulas de ciências sociais.
Seu all star vermelho que ficava tão bonito naqueles pezinhos pequenos sempre saltitantes por onde andavam, até quando algum cara burro a deixava muito triste.
Eu adorava o vermelho dos seus sapatos, assim como ela adorava escolher suas coisas pelo fato de terem a cor vermelha.
Eu não conhecia ninguém que usasse sapatos vermelhos, e se todas as mulheres do mundo resolvessem por um par os únicos que ainda chamariam minha atenção seriam os dela.
Dei de presente a ela um livro que falava de política que ela tanto gostava, mas dizia ter preguiça de estudar com afinco. Um livro para que fosse símbolo de alguma coisa que, pelo menos eu, não sabia explicar.
A gente se fazia sorrir.
Eu um dia a questionei quando ela escreveria sobre mim. Tudo que conseguiu escrever foi "Se ele não tivesse comigo no ônibus agora certamente eu estaria dormindo na viagem". Não vi nada romântico nisso, ela discordou, como sempre discordava.
Eu tenho precisado muito dela, e tudo tem gosto de passado, talvez ela não se importe com o que esteja acontecendo, mas eu prefiro acreditar que ela se mantêm longe para não me machucar. É impossível ela ficar e não me machucar, não por ela... mas pelo o que eu senti.


O amor, né? aquele que só cabe na medida de um. No outro ou fica sobrando ou faltando.

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